outras mulheres

(clélia  lansac guaranha)

                                  CLÉLIA LANSAC GUARANHA

 

         Foi a primeira sanjoanense que se formou em Medicina, sendo proveniente de uma importante e produtiva família do município.

 

         Dra. Clélia Lansac Guaranha nasceu no município de São João da Boa no dia 29 de junho de 1918, 

Cursou as primeiras letras na Escola da Professora Anésia Martins Mattos, concluindo sua formação no Ginásio São João, em São João da Boa Vista. Partiu, então, para o Distrito Federal com o objetivo de cursar a Faculdade de Medicina.

Formou-se na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro no ano de 1939, tornando-se a primeira Sanjoanense formada em Medicina.

Durante a Faculdade, e também depois de formada, realizou estágios nos Serviços de Pediatria dos Drs. Flávio Lombardi e Walter Telles, e de obstetrícia, nos serviços dos Drs. Jorge de Rezende e Otávio Rodrigues Lima.

Entre seus colegas de turma estava o Dr. Leonardo Guaranha com quem começou a namorar durante o curso, e de quem tornou-se noiva, assim que formou-se. Passados mais de seis meses no Rio de Janeiro, ele estava fazendo especialização em Obstetrícia e ela em Pediatria. Posteriormente, ele montou o consultório em São Paulo e ela em São João da Boa Vista.

 

                  Deste casamento nasceram duas filhas: Suely Guaranha Ribeiro de Mattos, dentista que se casou com João Ribeiro de Mattos e Sheila Lansac Guaranha, advogada nascida no dia 21 de setembro de 1946 em São João da Boa Vista, que se casou com Max Gustavson.

       Depois do casamento foram residir em São Paulo onde passaram a trabalhar intensamente e onde nasceu a primeira filha do casal. Quando a filha estava com seis meses de idade, decidiram mudar-se para o então município de Cascavel (hoje Aguaí).

       Dr. Leonardo Guaranha exerceu sempre a sua missão de médico, com desvelo e capacidade, jamais se prevalecendo de sua situação frente aos seus clientes para tirar proveitos pessoais. Sempre trabalhou para angariar fundos para a construção da Santa Casa, conseguindo doações ou organizando quermesses para tal fim. Em 1956 uma diretoria foi eleita para continuar este trabalho, sendo nomeado Provedor o Senhor Benedito Vallim de Camargo e Diretor Clínico o Dr. Guaranha. No entanto, ele não conseguiu assistir ao seu funcionamento que ocorreu no dia 31 de janeiro de 1968, pois faleceu precocemente no dia 28 de agosto de 1958, após sofrer um acidente vascular cerebral fulminante.

 

A maioria dos médicos do interior envolvia-se em sua vida profissional em casos pitorescos. Entre os casos que marcaram a vida da Dra. Clélia estava seu primeiro paciente. Sua mãe que era farmacêutica, freqüentemente era chamada para algumas orientações, curativos, etc.

Logo após a formatura, enquanto descansava antes de começar seu estágio de Pediatria no Rio de Janeiro, envolveu-se em um caso complicado. Sua mãe havia fornecido um medicamento para a esposa grávida de um cigano, que estava com cólica. Após anoitecer, o cigano retornou e pediu que a Dra. Clélia comparecesse ao local onde estavam acampados para socorrer a esposa que estava em trabalho de parto, mas a criança não nascia. Acompanhada pelo pai, compareceu ao local e, após constatar que tratava-se de um caso de circular de cordão umbilical, tratou logo de resolver o caso, trazendo ao mundo um robusto menino que apesar de um pouco cianótico, logo chorou para alegria de todos. Voltou para casa feliz, pois seu primeiro caso, e primeiro pagamento, foi um sucesso.

 

         Foi a primeira médica sanjoanense e, apesar dos preconceitos existentes na época, com relação ao ingresso de mulheres nas Escolas de Medicina, sua vontade ferrenha de exercer tão nobre profissão foi mais forte que tudo e, transpondo a todos os obstáculos, formou-se em medicina, ainda privilégio dos homens.

         Talvez pela influência de sua mãe, que era farmacêutica, sua vontade era de ser média e os pais sempre a incentivaram em tentar seguir esta carreira, alertando, entretanto, para os obstáculos que teria que enfrentar pelo fato de ser mulher.  Em sua turma na Faculdade de Medicina, havia apenas mais uma mulher, Dra. Maria de Lourdes Maciello, que transferiu-se para Belo Horizonte.

         Mesmo com o falecimento do esposo, continuou residindo em Aguaí. No entanto, com o passar dos anos, começou a interessar-se em residir mais próximo de sua família. Desejava sua transferência do Posto de Puericultura de Aguaí para o Posto de Saúde de São João da Boa Vista, porém somente com a aposentadoria do Dr. Raul de Oliveira Andrade foi possível a sua transferência para sua terra natal. Trabalhou como médica consultante durante muito tempo, no Centro de Saúde, então localizado num prédio adaptado na Rua Saldanha Marinho. Posteriormente com a mudança do prédio novo, localizado na Praça João Ramalho, onde está até hoje, aceitou a chefia, pois era necessário que o médico trabalhasse em dedicação exclusiva, e como não tinha consultório, tudo ocorreu de forma adequada.

         Após transferir-se para São João da Boa Vista, passou aa residir com o pai no sobrado da família, localizado na Praça Governador Armando Salles. Após a morte do mesmo e da venda da residência da família, mudou-se para a rua Manuel da Costa, no Parque das Nações.

Em São João da Boa Vista trabalhou com os Drs. Ermelindo Arrigucci, José Edgar Alonso, Luiza Helena Ferreira, etc. Trabalhou também no Posto de Pediatria da Prefeitura Municipal, quando era Prefeito o Dr. Oscar Pirajá Martins Filho, durante um ano aproximadamente.

A Secretaria da Saúde abriu concurso para Médico Sanitarista que exerceriam as chefias nos diferentes Centros de Saúde (categorias I, II e III). Prestou concurso para Médico Sanitarista I, depois de dois anos passou para a categoria II, quando foi transferida para Salesópolis, ficando a título precário em Guarulhos, divisão São Paulo – Leste. Depois de seis meses aproximadamente nesse cargo, voltou para São João da Boa Vista como Médica Sanitarista III, onde permaneceu até se aposentar em 20 de agosto de 1980.

Após sua aposentadoria, passou a dedicar-se apenas ao cuidados dos familiares, não mais exercendo a arte da medicina.

 

 

         Recebeu um justo reconhecimento pelos seus relevantes serviços prestados durantes anos, no dia 28 de setembro de 2001, quando a Prefeitura Municipal de Aguaí e o Rotary local homenagearam os primeiros médicos que trabalharam na cidade, sendo a Dra. Clélia a pioneira entre os presentes na cerimônia.

 

 

Rodrigo Rossi Falconi

Membro-fundador da Sociedade Brasileira de História da Medicina e

Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

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