outras mulheres

(maximina conceição gustavson)

MAXIMINA CONCEIÇÃO GUSTAVSON

 

 

 

           Dona Maximina nasceu em Vila Real, Portugal, em 1884, tendo ficado viúva muita jovem, passando a residir com Dona Ida Westmann, casada com Emílio Westmann, que havia herdado a Padaria Alemã de seu pai, Henrique Westmann.

 

Em terras sanjoanenses Carl Gustavson (sueco) e Dona Maximina conheceram-se e casaram-se no dia 20 de janeiro de 1913. Com a morte de Emílio Westmann em 1921, Dona Ida vendeu a padaria e a casa com toda a mobília para o casal, que a dirigiram juntos, até o falecimento de Carl ocorrido no dia 19 de julho de 1958, tendo Dona Maximina permanecido no comando do estabelecimento até seu falecimento em 20 de junho de 1965. Dona Maximina é mãe de Jeny Gustavson Saraiva. (Por Rodrigo Rossi Falconi—Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 A Padaria da D. Maximina

 

“Graças à moderna tecnologia, imagens e sons podem ser quase eternizados com fidelidade cada vez mais impressionante nos cds, dvds e, sabe Deus o que mais virá por aí. Odores e sabores porém, não têm as mesmas possibilidades. Mesmo contidos em fórmulas, não podem ser reproduzidos com as mesmas características, pois outras mãos que não aquelas, jamais conseguirão fazê-los.

Quem viveu os tempos da Padaria sabe do que estou falando. Sãojoanenses daquela época lembram-se com saudade e, por que não dizer, orgulho, daqueles pães, doces, biscoitos e bolachinhas divinos.

Tudo na padaria era especial. O prédio era diferente de todas as construções da cidade, tijolinhos vermelhos sem reboco, puxado ao estilo inglês, muitas janelas e portas, a loja na frente e a residência da família atrás, a enorme chaminé e o portão lateral por onde entravam os caminhões trazendo lenha e as mercadorias. A localização privilegiada, na avenida principal, esquina com Floriano Peixoto, em frente ao cinema, às lojas importantes da época e passagem obrigatória para os bairros mais afastados. Até hoje o ponto é disputado.

Fora da área dos balcões ficava o salão com as mesinhas rústicas e suas cadeiras de assento de palha. Tudo muito simples, muito limpo. Aos sábados, o pessoal da zona rural disputava o espaço para comemorar casamentos e batizados.

Nós, crianças das imediações, não perdíamos a oportunidade de assistir ao espetáculo que começava pelo desembarque dos noivos e convidados que desciam da carroceria de um caminhão, provavelmente cedido pelos patrões aos "viva os noivos"! Era uma festa vê-los nas suas melhores roupas, trazendo as famílias completas. Ah, que vontade de compartilhar também!

Nos demais dias da semana, outros eram os atrativos. Três horas da tarde, o cheiro do pão recém saído do forno inundava a redondeza, espalhava-se pelos ares convocando a freguesia. Vinha gente de todos os cantos. A cidade tomava o café da tarde.

A cada dia, no entanto, acontecia uma atração diferente. Havia o dia das broinhas de fubá e dos biscoitões de polvilho, o dia certo das bolachinhas língua-de-gato, o do cavalinho de pão-de-mel, preciosidade em delicadeza na massa e no sabor, o dia do pão sovado, o dos canudinhos de coco e ou doce de leite. Era preciso ser esperto para não "ficar na mão."

Todos os dias, felizmente, para a alegria de todas as crianças que moravam por ali, era feito o maravilhoso e inesquecível pãozinho doce, cuja maciez, cor e sabor inigualáveis ninguém jamais reproduziu. Por cima do pãozinho, um brilhinho de açúcar na medida exata. Com a mortadela cortada bem fininha então, era o lanche campeão para ser levado à escola. E o melhor de tudo... era bem baratinho, todos podiam comprá-lo. Ainda posso ver D. Maximína na minha lembrança, baixinha, muito magra, cabelos lisos e grisalhos, puxados num coque à nuca, sentada atrás do balcão, comandando todos, família e empregados, com sua voz potente e olhos atentos. Lembro-me de suas mãos muito fortes, calosas, contrastando com sua aparente fragilidade. Era por elas que saía a sua ternura em forma de delícias. A padaria não era simplesmente padaria, era uma obra de arte.

Enquanto aguardamos o surgimento do (será cd ou dvd com sabores e odores originais?) vamos nos contentando com a magia da palavra escrita. Um dia... quem sabe!”

Sônia Maria Silva Quintaneiro

Membro da Academia de Letras

de São João da Boa Vista

 

VOLTA

         ”Dona Maximina foi uma pessoa muito caridosa e, durante anos, toda noite, servia uma baciada de pão com mortadela à diversas famílias que moravam em casas de pau-a-pique, no Cubatão, um bairro muito pobre da cidade, que se situava onde hoje está a Fundação de Ensino Octavio Bastos. No horário combinado, as pessoas ficavam na porta da padaria, esperando pelo que talvez fosse sua única refeição do dia. Os adultos ganhavam ainda um gole de pinga, para esquentar o frio, como ela dizia. Ela também socorreu, em diversas ocasiões, o pessoal dos circos que eram instalados num terreno na avenida Dona Gertrudes, em frente à sua padaria. Quase sempre, a temporada na cidade era um fracasso e eles não tinham nem o que comer, sendo então ajudados por Dona Maximina. Um destes circos foi o do Mazzaropi, que se tornou famoso comediante e cineasta e, numa entrevis­ta, lembrou daqueles tempos difíceis e da bondosa senhora”. (do livro Alemães, Suecos, Dinamarqueses e Austríacos em São João da Boa Vista—pag. 146 — de Jaime Splettstoser Jr.)

Arquivo de Jaime Splettstoser Jr.