maria sguassábia (biografia) |
Maria vai à guerra
Maria na trincheira
Tenente Mario Meira
Felizmente, tudo correu bem e o combate terminou sem baixas para a tropa revolucionária. Em seguida, o Tenente Meira, superior imediato, percorreu toda trincheira, perguntando se havia alguém ferido. Quando... de repente, o tenente estacou! Estava diante de Maria. Ela bem que ela tentou engrossar a voz, mas seus cabelos, soltos ao vento, chicoteavam as suas faces. Seu irmão, que estava perto, foi logo dizendo para o Tenente: “É minha irmã”. Ela ficou firme. O tenente espumou de raiva.
- A senhora é louca? Que é que está fazendo aqui? Volte para a cidade. Como é seu nome? - Maria Stela Rosa Sguassábia. - A senhora não compreende que, em vez de ajudar, vai atrapalhar? Mas, francamente! - Eu quero ficar, implorou-lhe Maria. Argumentou, justificou. O tenente estava irredutível: - A senhora não tem juízo? Como é que veio parar aqui? Já! Volte para a cidade. Furioso, o Tenente disse-lhe que não precisava de mulheres e sim de munições. Ela teria que voltar para casa de qualquer jeito. Não queria saber de mulheres no meio de sua tropa. Alguns soldados reconheceram a professora da fazenda e interferiram. Alguém então sugeriu que antes dele tomar uma atitude definitiva, que fosse consultado o Estado Maior, que encontrava-se aquartelado em São João da Boa Vista. Outras vozes aplaudiram a idéia. O tenente vacilou. Bufou ainda, mas acabou concordando. O primeiro mensageiro que saiu para São João levou a consulta.
Maria foi aceita no batalhão com SOLDADO MÁRIO
Certificado de participação na Revolução de 32
Foram poucos os dias que a 4ª Cia. sustentou sua posição na fazenda paulista. Com a queda de Aguaí (antiga Cascavel) e outras cidades da região em poder dos ditatoriais, todo o 1º Batalhão teve de se retirar rapidamente para Casa Branca, a fim de não ser envolvido. Caminhões com soldados e víveres saiam em direção das estradas. Os trens apitavam na Estação Mogiana, em barulhentas manobras aumentando a confusão. Maria aproveitou para rever sua filhinha e seu pai. Mal conseguiu abraçá-los, teve que sair correndo em busca do caminhão que a transportaria. Só pela manhã terminou a retirada para Casa-Branca, onde o Comando Geral de todo o Setor, compreendido entre Mococa e Aguaí (Cascavel), assumiu o compromisso de retomar as cidades paulistas, caídas em poder das tropas inimigas. Concentrados na linha de combate constitucionalista, os atacantes mudaram a tática e se entrincheiraram pelos abrigos que encontravam. Maria sente o coração aos pinotes. Pela primeira vez, ela vê o inimigo. Agora, ele não é um vulto negro, indistinto, contra o qual atirava sem saber se tinha acertado ou não. O inimigo está ali, a três quilômetros, se tanto. E, a medida que se aproxima, pode ela escolher um homem qualquer, a esmo, enquadrá-lo na massa de mira e abatê-lo, como fazem os caçadores com as feras. A professorinha rural já sabe manobrar a arma com certo desembaraço. Só os "solavancos" do coração ainda perturbam um pouco a pontaria. A luta durou vários dias. Houve vários feridos, leves e gravemente. Um soldado desconhecido morreu na trincheira.
O trem blindado
Maria comportou-se durante toda a luta como verdadeira guerreira e com os seus companheiros de trincheiras, recebeu diretamente o ataque das tropas contrárias, sem uma reclamação, sem alimentação e mesmo água para beber. Manteve-se calma, tornando-se alvo da admiração e estima de todos os companheiros. Na segunda-feira, encharcada até os ossos, faminta, esfarrapada, Maria assistiu a debandada do inimigo. Mal, porém, a tropa se refez do choque violentíssimo, receberam ordens para cercar a qualquer preço a cidade de Vargem Grande alguns quilômetros adiante.
CREIO Creio no pavilhão da Treze Listas, Guilherme de Almeida
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Maria na trincheira |
Ela aponta na direção dos vultos negros e movediços, puxa o gatilho. Sente uma pancada terrível no ombro. Quase caiu de costas com o recuo da arma, por não saber que tinha que encostar a coronha ao ombro. Meio atordoada, armou novamente o fuzil, apontou: outra pancada no ombro; depois outra, e mais outra. Reanima-se. Manobra o fuzil, puxa o gatilho de novo. Outra pancada. Mais outra, mais outra. Antonio resmungava ainda. Depois da quinta pancada, o percussor bateu em seco um estalido metálico. Estava sem munição. Olhou desesperada para Antonio. Não sabia encher o carregador da arma. Ele, mudo, com maus modos, tirou-lhe o fuzil da mão. Puxou o ferrolho para traz; levou-o à frente; torceu-o à direita, ensinou-lhe a remuniciar a arma e seco disse-lhe: "Agora, é só puxar o gatilho. Está armado. Para armar novamente, faz a mesma coisa. Entendeu?". As balas, porém, continuavam a zunir e a ricochetear nas pedras, produzindo um zumbido metálico impressionante. Parecia-lhe que o inimigo dava mais tiros por minuto de que os seus companheiros da 4ª Cia.. Por perto dela, alguém gemia e praguejava. Os vultos desapareceram da colina. Quando a madrugada começou a despontar, o inimigo cessou o fogo. Maria verificou que estava com os braços exaustos e que seu ombro direito estava roxo, dolorido, pisado de sangue, de tantos “coices” do fuzil. Mas é tomada por uma alegria diabólica! O coração ficou limpo, aliviado, quando percebeu que o inimigo recuou. É dia claro. O tenente ordena a cessação do fogo. Maria tinha tudo que pretendera dizer aos ditatoriais, isto é, que se muitos homens são medrosos, há mulheres que sabem brigar.
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Como ela insistia em ficar, seu caso foi levado ao Comandante da Coluna. O Estado-Maior, entretanto, não quis assumir a responsabilidade da decisão e remeteu a consulta diretamente ao comandante supremo dos exércitos naquele setor, o capitão Romão Gomes, em seu Quartel General em Águas da Prata. Ao contrário do que se esperava, Romão Gomes não se importou com a presença de Maria, consentindo que ela continuasse combatendo. Deu gostosas gargalhadas e respondeu: - Bonito será para ela, se resistir, enquanto muitos homens barbados estão fugindo ao ouvir os primeiros tiros. Será um exemplo para todos. - Pode ficar. Se agüentar o repuxo, servirá de exemplo aos medrosos. Se não agüentar, pode abandonar as trincheiras, quando quiser.
Maria, então, é incorporada à 4ª Companhia do 1º Batalhão Paulista da Milícia Civil, com o nome de... Mário Sguassábia. |
O tenente Mario Meira com o seu grupo, seguido de perto por Maria, foi enviado, às pressas, para tentar um envolvimento pela esquerda, antes que o inimigo se abrigasse. Mas era tarde. Os soldados do tenente Meira foram recebidos sob tremenda fuzilaria. A situação tornou-se dramática. Corriam risco de serem massacrados. Maria resmungou, com seus botões: "É por causa desses relaxamentos que eu me meti nesta guerra". O capacete de Maria é "riscado" por um projétil. Alguns morrem. E a soldados inimigos "cresceram" diante das posições da 4ª Cia. Súbito, surge na planície o trem blindado, arma de guerra improvisada pela indústria paulista. Vem solene e vagaroso. Tomado de surpresa, o inimigo suspende o fogo. Meio desabrigada, a soldadesca inimiga corre em todas as direções e é varrida pelas metralhadoras de bordo. Apanhou grande parte das Tropas atacantes em dois fogos, fazendo-lhes grande mortandade. O trem blindado assustou as tropas mineiras, que precavidas contra ele, esconderam-se nos montes de lenha e arrancaram grande parte dos trilhos. As balas se chocaram contra a blindagem, produzindo um ruído que Maria comparou ao de uma máquina de costura picando aço. De repente, porém, uma das janelas da locomotiva se entreabre. O maquinista quer "espiar a guerra". Uma bala corta, rápido, sua curiosidade, matando-o. Os soldados a bordo descontrolaram-se. E, solene, como chegou, o trem blindado fez marcha-à-ré, deixando a 4ª Cia. sozinha novamente com o inimigo, que de novo "cresce" sobre as suas posições agora quase insustentáveis. |
VOLTA SEGUE |
Desfile em comemoração a 9 de Julho |
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