orides fontela

(bibliografia)

OBRAS DA POETA

TRANSPOSIÇÃO – Instituto de Cultura Hispânica da USP, 1969
HELIANTO – Duas Cidades, 1973
ALBA –Roswitha Kempf Editores, 1983
ROSÁCEA - Roswitha Kempf Editores, 1986
TREVO – (Claro Enigma) Duas Cidades, 1988
TEIA –Geração Editorial, 1996
POESIA REUNIDA –CosacNaif, 2006

Obras publicadas no exterior

Francês
TRÈFLE (Trevo) - Tradução Emmanuel Jaffelin e Márcio de Lima Dantas - Paris: L'Harmattan, 1998.
ROSACE (Rosácea) - Tradução Emmanuel Jaffelin e Márcio de Lima Dantas - Paris: L'Harmattan, 2000.


PRÊMIOS

1983 - São Paulo SP - Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro Alba, concedido pela Câmara Brasileira do Livro
1996 - São Paulo SP - Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro Teia

2007 - Belo Horizonte MG - Comenda Ordem do Mérito Cultural, categoria Grã-Cruz

 

COMENTÁRIOS DA AUTORA SOBRE SUA OBRA

Transposição: devo me deter mais, deixar de piadas. Já atingi o real literário: o que foi publicado, existe. Eu goste ou não. E eu gosto! Este livro com sabor ingênuo e bem sanjoanense, com uma integridade e forças próprias, é filho do Sol de São João! Não procurem “filosofia” nele, nem orientalismo, é só o que é, a quase inefável intuição de estar "a um passo de". De quê? Sei lá, hoje estou há anos luz... O sol virou a Estrela Próxima. É um livro claro e ingênuo, no fundo, em que pese sua linguagem excessivamente abstrata. Parece "teórico", mas é integralmente vivido. E foi Transposição que publiquei em 69, via Instituto de Espanhol da USP, onde Davi Arrigucci trabalhava.”

Helianto, é uma produção sofisticada de uma aluna de Filosofia da USP – pois uma “professorinha” não tem status e nem apareceria – quero deixar claro que, em todos os meus livros, o nada jamais me interessou, e como poderia interessar a quem quer que seja? O problema sempre foi o ser, a forma, a palavra. O silêncio só entra devido ao impasse inevitável. Helianto: Hélios e anto, Sol e flor, terra e sangue, totalidade, círculo. Esta é a ideia mestra de Helianto, que por isto tem como epígrafe uma cantiga de roda. Reconheço que este é meu livro mais “bizantino”. No bom e no mau sentido. Esbaldei-me, usei e abusei de toda a tecnologia aprendida. Sim, li os concretos, mas... era tarde. A espinha dorsal já estava pronta e ereta, e outras influências só poderiam me atingir de raspão. Li Mallarmé, Baudelaire, Góngora. E bem pouco penetrou, o que eu já era, já era. É por isso que não sou nem nunca pude ser uma renovadora e, no máximo, adquiri maestria e forma própria de lidar com aquilo que recebi de meu meio social. Helianto comprova bem tanto a maestria quanto a limitação, mas creio que, na época, sua preocupação com a meta-poesia (a forma, a palavra) não estava tão defasada assim. Mas, apesar do patrocínio de Antonio Candido, o livro foi totalmente ignorado. Azar...Agora mudo de novo, de poeta lida só na USP para poeta conhecida pelo menos em alguns outros estados. Isto levou tempo a valer. ”

Alba: eu havia conhecido o professor Antonio Candido lá para 70 ou 71, após Transposição, de que ele gostou. Ele leu Helianto e arranjou a publicação, leu também Alba, que acabou prefaciando. Tudo fácil? Que nada! Difícil mesmo era quem, naquele tempo, publicasse poesia. Mas, em 83, a Roswitha Kempf assumiu e o livro emplacou, foi premiado e vendeu. Feliz? Pois sim... Pra mim, era um fim de linha, o ápice da espiral poética iniciada creio que com Rosácea I, algo de perfeito e, por isso mesmo, ultrapassado e morto. Podiam louvar ou execrar, mas meu problema era – como mudar? Neste momento eu consegui mesmo um livro, algo bastante íntegro, e, por tudo isso... terminal. Voltei a “um passo de”... mas não saí de lá. Única novidade que assinalo em Alba é o início da influência do Zen. Só um “cheiro”, algo sutil, perceptível em certos poemas. Não vou dizer quais. Leiam, pô! “

Rosácea: o sucesso de Alba talvez tenha prejudicado um pouco a estrutura de Rosácea, pois organizei o livro depressa demais, e o material era bem heterogêneo. Coisas novas, fundo de gaveta e restos de memória. Juntei tudo. Aproveitei o título do livro abortado e a estrutura quíntupla – devo ao Davi a ideia de como organizar o livro – mas, mesmo assim, é meio dissonante. Justifiquei-me usando como epígrafe um koan de Heráclito, isto é, se o universo é bagunça organizada, um “caosmos”, meu livro também poderia ser a mesma coisa, tranquilamente...E foi em Rosácea que tentei renovar-me, abandonar o sublime (de que, como boa proletária, desconfio paca), assumir o pessoal e o concreto, isto é, condensar as abstrações apresentá-las como imagens, se possível exemplares – algo como Brecht. Em parte consegui, em parte não. Enfim, estou a caminho, uma nova virada, a mais problemática de todas. Agora quero assinalar que Rosácea inclui um livro Zen – isto é, Zen a meu modo – e sonetos (o “Bucólicas”) que não estavam nem em Rosácea I, pura arqueologia. E poemas que ficaram só na memória... Existem ainda os poemas perdidos de Rosácea I? Vale a pena? Creio que não. Resgatei o que sobreviveu e pronto.

Trevo: um trevo de quatro folhas. Para dar sorte. E eis tudo até agora. Mas nossa época é terrível, somos “poetas em tempo de desgraça”, como diz Heidegger. Nossa cultura está numa crise que atinge suas próprias bases – e a isto chamamos pós-modernismo – pois nem nome próprio tem o que morreu e/ou ainda vai nascer. Onde estou? Onde se localiza minha obra de mais de vinte anos no quadro da poesia brasileira? Não sei. Que os amigos, os críticos, os outros poetas me ajudem a responder a esta questão. Eu deixo aqui este depoimento pessoal de uma autora senão excepcional, razoável e consciente. Em Rosácea I eu tinha posto uma epígrafe do Eclesiastes: “aquilo que acontece é/ longínquo/ profundo, profundo:/ quem o poderá sondar?”. Poderemos? Bem a erva humilde e até vulgar da poesia não foi arrancada por ninguém, foi bem cultivada e deu no que deu: este Trevo. E sendo tudo por agora, prefiro recorrer de novo ao Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Ou se quiserem, tudo é poesia, né?”“

Teia: dizem que é um livro mais fácil que os anteriores. Mas essa foi a minha intenção, eu quis me afastar do barroquismo. Reclamam, porque eu não falo de amor. Mas então não leram Homero... Eu quis chegar no miolo das coisas. Já fiz duas leituras para auditório de jovens e eles gostaram muito. Isso me deixa reconfortada. Mas, infelizmente, nossos especialistas ainda têm uma visão muito olímpica da poesia. Entes de Teia, eu cheguei a ser classificada como "poeta metafísica". Agora, espero, fica mais difícil me enquadrar. Mas é a velha história: é melhor que falem mal, mas falem de mim. Eu preciso de dinheiro para viver. Minha vida é um retrato da vida dos aposentados do Brasil. E a vida dos poetas no País. Eu queria ser mais enxuta, queria escrever poemas exemplares à moda de Brecht. Sei que não agrada, porque a moda hoje é o barroquismo. A moda é escrever como o Alexei Bueno. A moda é ser difícil. É um fenômeno sociológico e não adianta discutir com os fatos da sociologia. Não quero ir contra ninguém, só quero escrever meus poemas. Essa guerrilha de poetas é divertidíssima, mas desejo participar dela. Eu sou pequena, pobre mulher que escreve uma poesia boa, mas, coitada, não é do meio. Não tenho família, não tenho bens, não freqüento os lugares chiques. É como se eu estivesse invadindo o Olimpio.” Publicado originalmente: in Artes e ofícios da poesia.
Augusto Massi (org). Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1991. pp. 256-261


BIBLIOGRAFIA SOBRE A AUTORA

DANTAS, Vinicius. A NOVA POESIA BRASILEIRA E A POESIA. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n.16, p.40-53, dez. 1986.
FONTELA, Orides.
ORIDES FONTELA. In: ARTES e ofício da poesia. Org. Augusto Massi. Apres. Leda Tenório da Motta. Porto Alegre: Artes e Ofícios; São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1991. p.255-261.
___.
SEXO E DESTINO. Entrevista do mês, conduzida por Augusto Massi, José Maria Cançado e Flávio Quintiliano. Leia, São Paulo, ano 11, n.123, p.23-25, jan. 1989.
MASSI, Augusto.
UMA OBRA FEITA EM ESPIRAL. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 ago. 1986. p.61.
BUCIOLI, Cleri Aparecida Biotto.
ENTRETECER E TRAMAR UMA TEIA POÉTICA. FAPESP, Annablume. São Paulo, 2003.
SOUZA. Fatima Maria da Rocha.
ARMADILHAS DO TEMPO. Universidade Federal do Ceará, 2004.

    VOLTA      SEGUE

1    2    3    4    bibliografia     fragmentos     frases     cronologia